Nego-te a ti que me amas pelo simples facto de estares aí. Nego-te a ti porque me enganas quando me julgas superior, quando me enalteces nessa mentira. Não te quero desiludir mas não há razão para me amares. Não há nada em mim que possas apreciar. No fundo da cólera do meu olhar encontrarás um conjunto de estratagemas falhados pela incompetência de os manobrar. Por que me olhas assim? Por que me ofereces presentes. Só te direi que te amo quando alguém me falhar, quando alguém não corresponder à minha manipulação diária. Não te amo e não te quero amar. Tu e eu somos a mesma pessoa, um só num conflito entre hemisférios cerebrais que se opõem e se negam. Tu e eu estamos neste corpo. Não dormimos de noite e não mantemos a vigília de dia tal é o cansaço que do nosso único ser se apoderou. Vem depressa noite escura, vem depressa noite eterna acalmar este vazio que há em mim. Esta ausência de identidade que me vai matando a cada instante de ausência de ti, morte boa, morte justa. Vem depressa, não deixes que a luz te impeça de chegar a este lugar que já não existe.
E no dia seguinte ele não era nada, não havia pensamento, não havia sensação, não saberia que algum dia teria existido aqui onde um corpo que se pensa ser o seu repousa inquieto embora inerte. A noite escura chegou sem com ela lhe oferecer a calma prometida pela morte. Agora existe uma ausência de si e de passado. Agora, existe nada. Agora nada é tudo. Agora, só agora.

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