As pessoas no tram não têm expressão, algumas têm um olhar de desaprovação, de desconfiança ou de malícia mas não têm um rosto expressivo. Deixam-se ir no tram como se aquela viagem fosse algo que fizessem obrigadas como um carma repetitivo do qual não poderão nunca libertar-se. As pessoas do tram oscilam quando o tram oscila. As pessoas do tram têm os olhos semi-serrados e não sorriem. As pessoas no tram são sempre as mesmas embora me pareçam possuidoras de rostos cujas feições mudam diariamente. São as mesmas, as pessoas do tram que embarcam a qualquer hora na viagem que são as suas vidas. Eu entro no tram a horas concretas para fazer coisas concretas. Existe um antes e um depois do tram para mim também e nesses momentos sou eu, sou pessoa, penso e faço coisas que os outros não pensam e não fazem porque não são eu. Quando entro no tram sou uma pessoa do tram, sou um rosto desconhecido sem reação, à espera do terminus do tram ao qual chego sozinha como muitas vezes vai acontecendo nas viagens mais importantes como a vida. Se não existisse o tram não existiriam as pessoas do tram que diariamente deixam as suas vidas em suspenso durante estas viagens. Se não existisse o tram, as pessoas do tram seriam as pessoas de outro sítio qualquer na viagem de ida sem destino a que os homens chamaram de vida.
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