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terça-feira, 4 de setembro de 2012

As pessoas do Tram


As pessoas no tram não têm expressão, algumas têm um olhar de desaprovação, de desconfiança ou de malícia mas não têm um rosto expressivo. Deixam-se ir no tram como se aquela viagem fosse algo que fizessem obrigadas como um carma repetitivo do qual não poderão nunca libertar-se. As pessoas do tram oscilam quando o tram oscila. As pessoas do tram têm os olhos semi-serrados e não sorriem. As pessoas no tram são sempre as mesmas embora me pareçam possuidoras de rostos cujas feições mudam diariamente. São as mesmas, as pessoas do tram que embarcam a qualquer hora na viagem que são as suas vidas. Eu entro no tram a horas concretas para fazer coisas concretas. Existe um antes e um depois do tram para mim também e nesses momentos sou eu, sou pessoa, penso e faço coisas que os outros não pensam e não fazem porque não são eu. Quando entro no tram sou uma pessoa do tram, sou um rosto desconhecido sem reação, à espera do terminus do tram ao qual chego sozinha como muitas vezes vai acontecendo nas viagens mais importantes como a vida. Se não existisse o tram não existiriam as pessoas do tram que diariamente deixam as suas vidas em suspenso durante estas viagens. Se não existisse o tram, as pessoas do tram seriam as pessoas de outro sítio qualquer na viagem de ida sem destino a que os homens chamaram de vida.

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