Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Escrever

Escrevo pelo prazer de escrever. Escrever é sonhar por palavras e os sonhos por vezes são pura ilusão, outras vezes são desejos ou situações ocorridas revestidas de magia. Nem sempre o que escrevo é a transposição de situações que ocorreram. Nem todos os dias vejo borboletas e não aprendi ainda a respirar sincronizadamente durante o voo. A morte é um tema sobre o qual escrevo por fazer parte do ciclo de vida tal como o amor ou a razão. Escrevo sobre temas que povoam a minha mente sem retratar necessariamente a minha realidade física. Leiam, interpretem à vossa maneira e não pensem na ideia que terei tido ao escrever a menos que se revejam nos textos que escrevo por referências encontradas no detalhe do recorte das palavras. Tudo o que escrevo é sentido no momento em que escrevo mas não se preocupem quando contar uma história. Sou só eu a divagar. Um beijo carinhoso  
Borboleta 

Vem bater na minha janela

Hoje escrevo-te porque as palavras ditas deixaram de soar a palavras ditas.Saem da minha boca como se não tivessem sido proferidas, nem tu as ouves nem eu as digo realmente. Se te escrever  podes ler e se não leres hoje estou certa de que chegará um dia em que entenderás em cada frase o sentido omisso do que te disse. Por agora observo-te de longe, borboleta sem destino que voa em todas as direcções menos na minha.  Só tu  tens olhos cor de mar e o sorriso nas estrelas que à noite vais buscar. As borboletas do meu jardim não são assim, têm todas um olhar vulgar e um sorriso tão belo que dá vontade de chorar, não iluminam o mundo como tu. Lê apenas o que escrevo, borboleta cor de mel, partilho contigo o coração numa arritmia perigosa que ignoramos sem pensar. Desce das estrelas, borboleta cintilante, mas não te esqueças de bater na minha janela. 

Porque às vezes escrevo assim... 

Tixinha

domingo, 28 de agosto de 2011

Tão perto e tão belo...Rio Mondego


Viagem final

Hoje olhei-te mas apenas acedi a uma parte do que eras. Talvez o facto de não existires me impeça de te perceber tão bem como outrora. A tua pele ganhou de repente um tom pálido e baço. Não percebo para onde foi o brilho dos teus lábios rosados e o teu toque sensual. Os teus olhos fecharam-se para sempre? Para sempre é até nunca e nunca é impossível de alcançar. Tenho medo de te olhar nesse leito onde não estás. Cobrem o teu corpo flores mortas como tu, centenas de flores feias de que ninguém gostou. Aproximo-me desse corpo imóvel e as lágrimas correm em cascata. Tenho medo. Tenho medo do que desconheço, tenho medo de deixar o teu corpo frio sete palmos abaixo do meu corpo quente e com vida. Somos tão iguais e tão diferentes neste ponto em que o teu percurso termina e o meu se inicia. sou só eu agora sem saber. Sou só eu que corro e salto e beijo borboletas que voam no ar. Beijo esses lábios na ilusão de te beijar a ti mas o que sinto não é nada, apenas ilusão de um presente que não virá.

Não és mais aqui



Tixinha

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tu sabes...

Sorriso de borboleta que me faz sentir tão bem, se não tivesses lá estado não sei se teria sobrevivido ao tédio. Um dia proibiram o meu sorriso azul de contrastar com a frieza da neve e tu obrigaste-o a permanecer ali. Ficava tão belo o contraste entre as nossas mentes sãs e os corpos que se faziam arrastar por lá. E conseguimos ser felizes, aqueciamo-nos com felicidade que descobríamos no rosto cansado de cada um que connosco se cruzou. Se não estivéssemos juntas não teria sorrido tanto. Se não estivesses lá, teria perdido a capacidade de ser. Entre vídeos amadores e jogos de computador que ninguém conhece tornamo-nos pessoas cada vez menos sérias. Agora peço-te algo, fica aí para sempre.
tixinha

Tenho a certeza que quando leres saberás que é para ti

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Borboleta

Tentei voar mas o bater de asas não me permitiu o movimento perfeito para traçar o céu. Bati as asas com força, tanta força que os tons de rosa e amarelo e vermelho se misturaram numa ilusão visual passageira. Desisti e observei à volta as borboletas a voarem como bailarinas num espectáculo divinal aplaudido por 1000 mãos. Tão lindas que me pareceriam se eu não fosse borboleta também. A folha de hortelã que me serviu de suporte balançou com uma gota de água que caiu como diamante de tão perfeita engenharia natural. Vi ainda o reflexo de mim mesma antes de cair, linda, tão linda como uma paleta de um pintor impressionista, a mais bela borboleta com asas de seda, tão perfeita borboleta caída no chão, de asa rasgada, olhos sem vida e corpo inerte. E o tempo passou e ninguém perguntou pela borboleta que não conseguia voar. Mais borboletas encheram o céu naquele Verão e tudo continuou, novas mãos aplaudiram novas borboletas e novos tufões foram originados ou evitados num outro lugar do planeta.
tixinha

Amizade

Quando te vi gostei logo de ti, criança perdida no meio do desconhecido. Aproximei-me sem medo e sentei-me ao teu lado num mundo de vivências que detemos e que passam por mim como projecções de slides. Ai que saudades deste tempo que me deixou, que saudades desses momentos que nos permitiram uma construção de tanto e uma exploração tão grande da ausência de questões metafísicas. Limpaste tantas vezes a água salgada derramada no meu rosto e agora construímos um oceano mesmo aqui ao lado porque ignorávamos a possibilidade desseoceano nos separar no espaço físico. Quebraste a barreira entre mim e o mundo e riste comigo, entraste na minha vida e nunca mais sairás. Confiaste em mim, ajudaste-me a ultrapassar obstáculos e agora? Choramos num abraço que se perde como se nunca tivesse passado de sonho porque já não o sinto como sentia. Agora sou só eu em standby. Vem de novo, carrega no botão e faz-me continuar, preciso de sentir a vida a correr-me nas veias, nas artérias, no coração e no estômago mas as mão continuam frias sem que lhes consigas tocar. Protege-me do mundo, vem devagarinho e traz contigo esse carinho, esse sorriso que teima em me deixar. Dá-me a mão e vamos brincar, a criança agora sou eu, olho em redor e penso que te perdi quando afinal estiveste sempre ali. A ti, aos momentos e ao facto de me permitires ser eu plenamente. (Cláudia Silva)
Tixinha

Mar

Mar imenso que te perdes em grandiosidade sem te revelares em tempo algum. Deixa-me explorar-te e não me rejeites mais uma vez, deixa-me mergulhar até sentir que és físico e não sonho, só hoje, amanhã não voltarei se assim o desejares mas hoje quero entender os teus limites. Ao longe avisto uma linha fina, bem desenhada com régua e esquadro, mais perto os limites são espuma, num traço grosseiro de guache. Deixa-me perceber onde começas e acabas, deixa-me conhecer-te e viver dentro de ti por um instante, não fujas quando a minha mão se aproxima de ti, não me empurres quando tento explorar-te. Não te farei mal Mar salgado. Permite-me só que te veja e te sinta pela derradeira vez óh Mar português!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Divagação

Ouço o relógio, tic tac, tic tac. Desligo o botão e o tempo continua tic tac, agito-me na incerteza de ter parado de sentir. Olho à volta e os relógios continuam num compasso elegante tic tac tic tac, ignorando a agitação do meu corpo que se move sem sentido. Preciso de parar o tempo neste momento. Os instantes sucedem-se ignorando o meu desejo. Música, volume no máximo, tic tac tic tac tic tac... volume mais alto mais alto mais alto, tic tac. Nada fará parar este tempo, molho o tempo, o peso debaixo de água pesará menos ou vencerá com mais facilidade a força gravítica. Pego no tempo e mergulho-o num rio qualquer, bem fundo, tic tac, o tempo passa. Volto para casa e percebo que o tempo acabou tendo-me ocupado com a preocupação de o parar.

Tixinha

Para todos os doentes de quem cuidei e para aqueles de quem cuidarei

Preciso tanto de tocar com a minha mão nas tuas e sentir esse calor, essa esperança. Preciso tanto do teu olhar de confiança e cumplicidade capaz de me dar força para aguentar pela vida fora. Preciso tanto de saber que te sou útil e de que a minha presença na tua vida elimina um pouco do sufoco que possas estar a sentir nem que seja simplesmente por um sorriso sincero que trocamos. Preciso de te dizer que está tudo bem porque estou ao teu lado para sofrer um pouco quando a dor for superior ao que é suportável mantendo a calma que te faltará.Preciso de te ver fechar os olhos pela última vez num momento de paz sem dor alguma quando terminar a caminhada. A minha lágrima por ti será derramada depois de partires para que não sintas pena de mim. Preciso de te ver dormir e acordar e de me sentar ao lado do teu leito para te ouvir simplesmente. Sinto tanto a tua falta. Arrasto-me simplesmente, perdi as asas e não sei caminhar, fui anjo na terra numa ilusão passageira que se quebrou de repente. Procuro um rumo, asas novas para voar de novo para junto de ti e te ajudar a sorrir de novo.

Enfermeira tixinha

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mais um dia

O tempo passa, os dias sucedem-se e nada parece acontecer. Deixei de ter regras, existo simplesmente sem me preocupar com o futuro. Acho que estou a deixar de pensar, não leio, não vejo cinema, não trabalho. No final do dia de ontem recordei a ausência de pessoa que fui durante todo o dia. Sinto-me bem assim, o tempo passa e cada vez me sinto mais acomodada como se estivesse a ganhar medo de sair de casa, como se um tufão estivesse prestes a assombrar a minha Vila. Preciso de sentir o vento nas asas e não me arrepiar com a sensação de frio, preciso de me deixar voar por aí, amanhã será um novo dia.